sexta-feira, 15 de outubro de 2021

O Purgatório de Virgílio para ZX Spectrum finalizado.

 O Purgatório de Virgílio, meu mais recente Jogo, lançado para ZX Spectrum (mas quem não possue tal máquina do passado pode tranquilamente jogar em um emulador, seja no PC, ou celular, ou até em outros aparelhos como videogames dos anos 2000)

Em breve atualizarei o blog para incluir o jogo lá na lista, de qualquer modo, ele já consta no meu site www.amaweks.com . Abaixo algumas imagens, e ao final, um texto que escrevi especialmente para o lançamento do jogo:










Algumas palavras a mais sobre a narrativa e contexto deste jogo:

Eu não canso de repetir que meus jogos são o meu produto de arte, e que encaro o jogo como uma linguagem estética com suas particulariedades tanto quanto o cinema, os quadrinhos, as artes plásticas, a literatura, ou o que você puder imaginar. Estou nessa "pesquisa" de entender essa linguagem, e explorar suas possibilidades, já fazem alguns anos, aprendendo tanto a parte mais "técnica" (a programação, o desenho de interação entre jogador e jogo, etc), quanto a parte mais artística, e não só fazendo as músicas e gráficos mas entendendo como isso tudo se articula na narrativa do jogo. E o tema escolhido é sempre muito importante nessa equação.

O Purgatório de Virgílio é (foi em 2016 e o é novamente, agora de forma mais consciente) meu manifesto de que um jogo brasileiro pode abordar temas regionais sem ser necessariamente "regionalista" ou menos ainda tradicionalista. Quando eu escolho pegar elementos da história do cangaço, da literatura popular de cordel e tudo que se relaciona a ela, e faço relação e diálogo com a Divina Comédia de Dante Alighieri, eu quero dizer que um não é mais importante que o outro em termos culturais. E que, claro, sendo brasileiro, me é interessante abordar temas daqui, mas sem reduzir-los á qualquer gueto ou margem, mas pelo contrário, fazendo o movimento de inserir-los na cultura universal humana. Por que o que temos culturalmente de diferente do resto do mundo é o que temos de mais rico e único, e ignorar nossa cultura seria também me empobrecer artisticamente.

Daqui a um ano, em 2022, farão 100 anos da Semana de Arte Moderna no Brasil. Sua importancia não cabe aqui nesse parágrafo, mas em resumo os modernistas deixaram claro que era preciso "antropofagizar" o estrangeiro, "comer eles", e assim parir o novo, mesmo que de forma caótica. Não basta se apoiar na tradição cultural, que é sim importante, mas é preciso ir além. Posteriormente, o movimento da Tropicalia atualizou este entendimento, e deixou ainda mais claro que o oposto também não nos serve: apenas imitar o estrangeiro como um "vira-lata" neo colonizado é talvez ainda mais miserável e pobre culturalmente, e que a "antropofagia" devia ser ainda mais radical. Em certa medida, o manifesto Mangue Beat, encabeçado por bandas de Recife como o Nação Zumbi, fez nos anos 90 uma nova atualização da atropofagia modernista, agora num mundo muito mais urbano que rural.

É sem medo da estatura destes grandes que eu me insiro nessa mesma busca, e eu não estou sozinho. Repito então, "O Purgatório de Virgílio", meu joguinho retrô, independente, obscuro, conhecido por poucos, foi meu manifesto nesse sentido em 2016, e o faço com ainda mais propriedade agora em 2021.



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