De novo a questão da nostalgia...
Fazer um comentário aqui sobre Nostalgia, dessa vez não a crítica que tenho a ela (isso já tenho feito e fica pra outro dia reelaborar mais uma vez) mas a questão filosofico-existencial do por que ela não é a principal força motriz que me move aos jogos antigos (nem a jogar e muito menos a fazer os jogos pra máquinas antigas).
Esses dias uma moça jovem perguntou no twitter se o que sentíamos ao jogar os video jogos antigos, que jogávamos na infância, era um sentimento nostálgico aconchegante ou um arrependimento por ver que o jogo não é de fato tão bom quanto na nossa lembrança. É fato que ambas as coisas acontecem, e tendo que a acreditar mais a segunda: se o que move a pessoa é a nostalgia então ela pode muito bem se frustrar, por que a lembrança que ela tem da infância não é a penas o jogo mas principalmente o contexto existencial dela naquela época que jogava aqueles jogos: sem preocupações em pagar as contas, com bastante tempo livre, as vezes cercado de amigos que compartilhavam aquela experiência, ou seja a vida era bem menos complicada.
Só que abandonar essa expectativa nostálgica é parte de amadurecer: entender que o tempo não volta, que você se modifica e isso modifica a experiência. Eu posso sentir um pouco de nostalgia, sou humano, mas ela não dura mais do que 2 segundos. Particularmente eu quando arrumo tempo pra jogar os jogos antigos não sinto grande nostalgia ou arrependimento, mas sim uma nova experiência de aprendizado. Agora, com 41 anos de idade, passado por universidades, lido livros, filmes, músicas, eu me tornei uma pessoa bem diferente da criança e adolescente que jogava video games.
Hoje quando jogo os games do passado eu os vejo como linguagem: me interessa ver como os desenvolvedores solucionaram os problemas de level design, programação, e narrativa para tornar o jogo real. Os erros e acertos do jogo, sem por isso achar que ele se tornou ruim. Em fim, é uma questão existencial, o jogo é o mesmo, eu é que não sou mais o mesmo: amadureci e hoje não alimento meu espírito apenas com jogos, mas com outras formas de entretenimento e principalmente arte, e tudo isso me dá outro horizonte e critérios para apreciar essas coisas.
É estranho por que isso destoa da moda atual, que sugere uma eterna infância ou juventude, que diz o tempo todo que amadurecer é ruim, é chato, etc. No fundo, parece que esse mundo do capitalismo tardio que não é mais capaz de oferecer um futuro de recursos materiais mínimos as pessoas (emprego estável, casa, bens materiais mínimos para algum conforto) se expressa na cultura dessa forma: na recusa a se amadurecer. É como se as pessoas no fundo dissessem a si mesmas: "a é, não vão me oferecer essas possibilidades e benesses daquilo que antes era a vida adulta? Então tbm não quero as responsabilidades de me tornar maduro e prefiro extender a minha infância".
Amadurecer não trata do antigo sonho pequeno burguês (que é esse que o capitalismo não pode mais prometer) de casar, ter um carrinho, casal de filhinhos, emprego em escritório, maridinho ou esposinha padrão de beleza. Nada a ver, isso é outra coisa. Amadurecer significa ter experiências de vida e tirar delas crescimento, não só intelectual (que é importante), mas principalmente afetivo. A gente amadurece afetivamente processando as frustrações, as dores, decepções, e alegrias. A existência é múltipla, não é só a da família pequeno burguesa, mas o amadurecimento é algo real que pode ser sentido.
Jovens, não caiam nessa cilada, amadureçam, parem de só jogar joguinho e vão ver cinema (de verdade, não marvel, é só ter vontade de pesquisar e baixar os filmes), ouvir música, ler quadrinhos (de verdade, que realmente expandem a linguagem, não apenas a miséria estética de hq de super heróis, por favor), ouvir música e explorar novos gêneros. A Infância eterna parece ser o mecanismo de defesa natural, mas é a cilada que vai deixar vocês desarmados contra esse mundo que vai ficar a cada ano mais selvagem, por que a onda neo liberal (ou pós neo liberal, seja lá o que for esse monstro que tá tomando forma), é a da uberização, da precarização total da vida, do cidadão que vive numa guerra constante de todos contra todos (é ele contra o mundo), e da pulverização total dos laços sociais (ironicamente conduzido a cabo também pelas tais redes sociais, essas aqui pelas quais vos escrevo). O capitalismo selvagem ja não é mais uma expressão de efeito de uma música, mas é a realidade das ruas.
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