Agora um ponto que já a muito tinha me interessado na fala do Mutarelli, que perguntado pelo Abujamra sobre as diferenças entre os quadrinistas Brasileiros e Argentinos, responde (e talvez eu já tenha abordado algo semelhante antes):
"Eu acho que o embasamento, acho que quadrinista na Argentina lê livro também, vê cinema, vai ao teatro. Quadrinista no Brasil, 90 por cento só lê quadrinhos, eles não expandem esse horizonte".
E toca no assunto novamente na entrevista com o Skylab:
"Os quadrinistas...eles só se retroalimentam, precisa dar uma oxigenada"
Isso sempre me faz pensar sobre os games, em especial a produção independente. A produção independente trabalha um pouco mais à margem da grande indústria (não totalmente fora), e semelhante às margens de outros linguagens narrativas e estéticas, sempre produz com pouca grana. É geralmente nesse meio independente, e que tem de compensar o baixo orçamento de produção de alguma forma, que surgem ideias e experimentações que fazem a linguagem dar alguns saltos qualitativos e explorar sua potencialidade e particularidade.
Mas algo que me incomoda muito na cena de games independentes é esse hermetismo dentro do próprio meio. Quem produz estes games é gente que consome, na maioria das vezes, apenas games e seus subprodutos (literatura sobre e a partir de games, mangás sobre seu game favorito, filmes relacionados a games escrita por Ghost Writers, etc...). No máximo, fora disto, se consome filmes Blockbusters e de super heróis.
Não me entendam mal: não falo por nenhum tipo de elitismo, nada contra você consumir estas cosias, das quais eu inclusive também me alimento, e as quais dialogo com toda e qualquer outra referência cultural que eu tenha, sem pudor. A questão é que a galera que faz games hoje se alimenta essencialmente de games e só. Tudo bem em você fazer um game de plataforma que faz citação ao Mario Bros. Mas precisa ser só isso?
Por que não dialogar a referência do Super Mario com algo da literatura, do cinema, do teatro, da música? O pessoal se esquece, ou não percebe por falta de referências, que muitos games do passado (forte inspiração para a cena independente) dialogaram referências da música pop, de filmes como Blade Runner (Snatcher), Total Recall (Flashback), filmes de terror B e literatura de mistério e terror como de H.P. Lovecraft (Castlevânia), ainda literatura como Don Quixote (Ghouls and Goblins), e outros que não sei ou não lembro (se você souber de algum, ou tiver qualquer palpite, deixe um comentário). estas referências nem sempre precisam, e talvez nem devam, estar explícitas, mas elas sempre enriquecem o tecido da experiência visual e narrativa.
É aquela coisa, a sorte de um George Lucas é que ele foi influenciado pelo Akira Kurosawa e pela geração de 68. O Azar de um J.J. Abrams é que ele foi influenciado pelo George Lucas (li algo assim em uma boa crítica, das únicas não ufanistas e nostálgicas, do último filme do Guerra nas Estrelas, achei que era nesta resenha de José Geraldo Couto, mas talvez não, perdi a referência).
Mas, claro que temos de vez em quando bons exemplos, tem gente articulando outras referências, e não é a toa que dai saem bons games independentes. Um que que ocorre agora Maldita Castilha, que dialoga referências medievais da "Castilha", Espanha, do game Ghouls and Ghosts, e talvez não por coincidência, Don Quixote, como mencionado nesta resenha.
Screenshot do game independente Maldita Castilha |
Nó gamers, em especial os que produzem games, precisamos também dar uma oxigenada.
Se você anda pelo mundo dos games, e sabe de outros games clássicos, e independentes de hoje, que articular diferentes referências culturais (para além do mundo dos games), deixe um comentário.
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