sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Meu "pessimismo"...


Antes que alguém confunda, quero deixar claro o objeto a que se dirige meu aparente "pessimismo".

Sou otimista no que diz respeito as relações de ensino e aprendizagem entre as pessoas: elas acontecem desde sempre, muito antes da existência da escola, e se não existissem, não teríamos a cultura e tecnologia que temos hoje. Como o desenvolvimento de tudo na cultura (entendida aqui como conhecimento humano que modifica a matéria e o espírito), as relações de ensino e aprendizagem vão se especializando: pessoas se dedicam a experienciar ela de forma plena, pesquisam, praticam, teorizam. Não fosse esse meu otimismo, hoje eu seria qualquer outra coisa menos educador.

Mas o que por vezes vou retomar, e que me enche de angústias, são os limites estreitos da atuação dentro da instituição "escola moderna", essa que deve muito as consequências da revolução industrial. Essa escola que funciona como fábrica, com suas sirenes, tempos e espaços de máquina, desumanizados. Explico: quando pensamos em fazer algo, pesquisamos, experienciamos e pomos em prática, temos uma sirene que nos dá apenas 40 minutos, de um momento específico, para fazer isso? Só mesmo na "fábrica" e na "fábrica de gente entediada" que (não)funciona assim.

Se eu planejo uma atividade de artes, e sei que ela pode ser realizada em 20 minutos, tenho de adequar ela aos 40, 45 minutos de uma aula, "enchendo linguiça". Se a atividade exigia 2 horas, tenho de picar ela, ou retirar partes relevantes para novamente adequar ela ao tempo da fábrica. Na vida não é assim que aprendemos, por que tem de ser assim na escola?

A escola fruto do pós revolução industrial também carrega algo que muito me incomoda: seu caráter de depósito de crianças. Os pais precisam trabalhar, ir para a outra fábrica, e o que fazer com seus filhos? Para muitas pessoas, incluindo as que estão na escola, pouco importa averiguar se há verdadeiro aprendizado, mas conta mais que os alunos "estejam na escola e não fazendo bobagem por ai". A sociedade, em geral, se contenta com o fato da escola ser um grande depósito de jovens, para eles "não incomodarem".

Cada vez mais penso que a suposta crise da escola que vivemos é outra coisa. A escola moderna já está em crise faz tempo, ela não é eficaz em gerar relações de ensino e aprendizagem. Doze anos da vida de um jovem, na escola, e você pede pra ele dizer o que aprendeu lá, e garanto que em menos de meia hora ele verbalizará tudo que consegue se lembrar. Se ele tivesse experiências plenas de sentido para contar, isso seria diferente, pois ele teria de narrar as experiências.

O que está em crise hoje é o depósito de jovens. O terror que as pessoas nutrem com relação ao mundo, grande parte estimulado pela mídia, também invade a escola, e ela parece um depositório menos eficiente para os jovens "não fazerem besteiras por ai". O mundo lá fora tornou-se demasiado interessante para a escola conseguir domar e domesticar seus alunos com a mesma eficiência de antes. Alguns pensam que a solução é midiática: fazer da escola um circo tecnológico, impressionar pais e alunos com um ambiente de ensino hightech. A tecnologia tem de ser usada a nosso favor, mas não é ela por si só que vai nos fazer avançar nas relações de ensino e aprendizagem.

Apesar destas considerações, prefiro estar lá na escola, nadando contra a corrente, e escovando a contra pelo.


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