sábado, 8 de março de 2014

Uma narrativa...


Já viram quando uma criança desenha e seu desenho é uma narrativa viva? Como um brinquedo, a criança desenha, sobrepõe desenhos, vai adicionando os novos elementos que se encadeiam na narrativa, sobrepondo-os ao mesmo desenho. Não lhe interessa o resultado final, mas sim o percurso daquele desenho/brinquedo/narrativa.


"A bernunça é bicho brabo que engoliu mané João. Come pão, come bolacha, come tudo que lhe dão", e o que não lhe dão também. Interessantíssimas criaturas que vivem na mata de restinga de nossas praias (ainda que seu habitat esteja em extinção). Raramente avistada, ela tem uma grande capacidade de se camuflar, de forma muito mais habilidosa que um camaleão. Quase sempre atentas, elas também precisam de seu momento de sono, e é ai que elas mostram sua beleza. Grandes sonhadoras, elas materializam involuntariamente na superfície de sua pele as imagens que entretém suas mentes, sejam memórias passadas ou futuras.



Certa vez Bernadete, quando ainda bernuncinha, se perdera de sua mãe ao buscar abocanhar a rabiola de uma pipa.

Cansada e perdida, ela procurou um lugar onde se camuflar, sempre dando preferência aos brinquedos bagunçados do quarto de alguma criança desta terra.



Já desanimada por não conseguir direções, ela a avista um Boi-tatá voando em certa direção. Lembrou da lição de sua mamãe bernunça: "os Boi-tatás vivem nas ilhas menores ao sul da grande ilha, lá eles mantém seus ninhos e cuidam dos seus filhotes". Esperta que era, Bernadete seguiu a criatura tatarina para assim encontrar as praias do sul.


É claro que ela encontrou o fim de sua pequena odisseia, e essa lembrança vai viver para sempre nas narrativas de sua existência sonhadora.

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