Walter Benjamin relaciona a narrativa historicamente à
cultura oral. O sujeito da oralidade retira aquilo que narra da própria
experiência ou da experiência relatada por outros. Para o autor, o narrador é
um homem que sabe “dar conselhos” e o “conselho, entretecido na matéria da vida
vivida, é sabedoria”. Ele fala do narrador ontológico, o narrador que dá
conselhos é aquele que se expõe ao mundo, tanto no momento em que aconselha,
quando no momento da experiência:
Quando alguém faz uma viagem, então tem alguma coisa
para contar, diz a voz do povo e imagina o narrador como alguém que vem de
longe. Mas não é com menos prazer que se ouve aquele que, vivendo honestamente
do seu trabalho, ficou em casa e conhece as histórias e tradições de sua terra.
Se se quer presentificar estes dois grupos nos seus representantes arcaicos,
então um está encarnado no lavrador sedentário e o outro no marinheiro
mercante” (BENJAMIN, 1980, p. 58).
Aqui ficam definidas as duas figuras ontológicas para o
narrador benjaminiano: um, o sedentário, e o outro, o aventureiro. O que os une
é que seu saber tem uma origem longínqua. O primeiro, distante no tempo, e o
segundo, distante no espaço. E é essa distância que dá autoridade ao seu saber.
Quem narra expõe sua vida, suas experiências e expectativas, por onde andou e
não andou e o que a ele se sucedeu (BENJAMIN, 1980).
No lugar do contraponto à narrativa Walter Benjamin coloca a
iformação:
A notícia que vinha da distância – fosse ela a
distância espacial de terras estranhas ou a temporal da tradição – dispunha de
uma autoridade que lhe conferia validade, mesmo nos casos onde não era
submetida a controle. A informação, porém, coloca a exigência de pronta
verificabilidade. O que nela adquire primazia é o fato de ser “inteligível por
si mesma”. (...) Cada manhã nos informa sobre as novidades do universo. No
entanto somos pobres de histórias notáveis. Isso ocorre por que não chega até
nós nenhum fato que já não tenha sido impregnado de explicações (BENJAMIN, 1980,
p. 61).
Narrativa e experiência são instâncias geradoras de sentido
para aquilo que nos toca, diferentemente da notícia que apenas passa. Também
fica claro que enquanto a notícia tem de se vestir de verídica para obter
legitimidade, a narrativa necessita da ficção. Mas o caráter fantástico da
narrativa, que pode lhe tirar a verossimilhança com o mundo factual, é o que
lhe permite expor uma verossimilhança com os indivíduos e espaços sociais. Quem
narra coloca fatos fictícios, mas discursa uma leitura de si e do mundo.
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