Acho que fazia um mês que não postava aqui no blog, já tava sentindo falta. O primeiro mês de aula foi cheio, mudanças de horário em uma das escolas, preparando materiais para as aulas, mas tudo tem corrido bem. Quero mostrar um pouco das atividades do primeiro mês de aulas.
Desenho de dois ou mais planos:
Depois do "desenho diagnóstico" e do texto "Desenho na arte contemporânea" eu pedi para os alunos um desenho com dois ou mais planos. Expliquei como funcionam os planos na imagem, e mostrei um exemplo que eu fiz pra eles. Como de costume eu ia circulando pela sala, ajudando os alunos que as vezes não sabiam como começar, corrigindo e mostrando como fazer diferente pra poder ter o corte dos planos.
Constatei no desenho diagnóstico que muitos alunos "empilhavam" os planos um abaixo do outro e não na frente do outro. Com meu pequeno exemplo eu ia esclarecendo para os que tinham dificuldade. Por fim a grande maioria dos desenhos saiu com dois ou mais planos, alguns mais simples, mas outros excepcionais:
Depois disso eu passei um texto no quadro, na verdade um pequeno vocabulário de alguns termos que vamos usar no decorrer do ano, e que reproduzo no final desta postagem.
Desconstruindo clichês:
Outra coisa que observei no desenho diagnóstico era como se repetiam alguns clichês de desenho, em especial "aquele sol", "aquela nuvem", e "aquela árvore" de sempre (sabem de quais eu estou falando né?). Então eu propus uma atividade em que eles deviam desenhar em uma folha 3 arvores, nuvens, e 3 sóis, um diferente do outro, e diferentes daquele clichê de sempre:
Comecei a aula explicando perguntando a eles o que era um clichê, e quase sempre ninguém fazia ideia do que significava a palavra (sempre que levo qualquer palavra fora de um vocabulário básico eu pergunto se eles sabem o que significa e explico do meu jeito). Depois mostrei os clichês. Mostrei as formas geométricas básicas (o quadrado, circulo e o triângulo) e desenhei um exemplo de arvore com uns quadradinhos. Como sugestão então deixei esse exemplo, pra eles brincarem com as formas geométricas na criação de suas árvores, sóis e nuvens. Novamente, saiu bastante coisa interessante:
Dinâmica do Caderno de Artes
Sei que não é a invenção da roda, e me sinto até tolo de só agora estar descobrindo as vantagens de exigir dos alunos um caderno de artes. Primeiro, não trago mais um monte de folha e papel dos alunos pra casa, é menos trabalho e preocupação para mim, e eles agora tem de se responsabilizar pela manutenção do que produzem. As avaliações agora eu faço olhando o caderno a cada 4 semanas (ou próximo disso). Tem 10 quem tem todos os textos e atividades que fizemos nas semanas anteriores, pra quem falta atividade a nota vai baixando, quem atrasa em uma semana pra mostrar o caderno tem nota descontada também. É bom que o critério fica claro, focado na participação, e eles saem com a sensação de justiça em relação á nota.
A outra coisa que tá sendo bem legal nessa dinâmica do caderno é ter tempo. No dia que faço a avaliação eu passo uma atividade pra eles (copiar algo do quadro, desenhar, etc), principalmente para as turmas agitadas (as calminhas até deixo sem fazer atividade) eu fico sentado na mesa, os alunos vem um por um mostrar o caderno (na ordem da chamada) e eu posso olhar com calma, fazer comentários pro alunos, e registrar os trabalhos que ficam acima da média. Isso sempre foi um problema que eu não resolvia, eu queria registrar as atividades, mas não tinha tempo dentro da dinâmica das aulas, agora eu tenho.
Como nem tudo são flores, eu vejo agora que falhei em não ter feito uma atividade específica antes de começar tudo isso. Apesar de muitos alunos já terem o caderno de desenho, alguns ainda não se organizaram nem providenciaram um. Já estava no meu planejamento fazer uma atividade de encadernação com eles (como fazer uma encadernação). Eu poderia ter feito esta atividade primeiro, e cada um deles já teria produzido seu caderno de artes para usar o resto do ano (ou no primeiro semestre pelo menos). Seria uma cosia deles, feita por eles, e a grande maioria já teria o caderno de artes. De uma próxima vez farei assim.
Aluna Daiane
No terceiro ano temos uma aluna com surdez, a Daiane. Ela já está conosco a 4 anos, tem épocas que evade da escola, e sempre teve várias dificuldades com a linguagem de sinais (agora que ela está se comunicando melhor). É uma aluna que é um caso a parte, e que merece uma observação mais particular. Ela desenha desde que a conheci, e seu desenho tem uma particularidade: é sempre narrativo. Ela conta histórias, mistura ficção e realidade factual, e quase sempre auto biográfica.
Ela desenha muito, sempre traz muitos desenhos de casa para me mostrar, e sempre vai além do que eu peço nas atividades. Acima o desenho dela das árvores/sóis/nuvens, e desenhos extras que ela fez (já aplicando o exercício que havíamos feito anteriormente dos planos na imagem).
E deu por hoje...
Vou parar a atualização por aqui que já ficou bem extensa. Em breve vou mostrar meu próximo game (que já está em processo de finalização) Devwill, inspirado nos filmes do Expressionismo Alemão, e posteriormente sobre as atividades que se seguem na escola. Abaixo o "vocabulário" que passei para os alunos em uma das aulas:
Vocabulário para
as aulas de arte
Desenho:
O desenho se define pela linha marcada (contorno) e pelo tipo de material
empregado, ex: papel, lápis, caneta, outros.
Pintura:
A pintura se define pela mancha de cor e pelos materiais empregados, ex: Tinta sobre
superfícies variadas.
Gravura:
são imagens reprodutíveis (podemos fazer várias cópias iguais) e usam diversas
técnicas, desde mais manuais até automatizadas. Ex: xilogravura, litografia,
frotagem.
Colagens:
É uma colagem quando pegamos um material e grudamos sobre outro material. Ex:
zines
Planos no
desenho: São as “camadas” que ajudam a criar a ilusão de profundidade na
imagem.
Enquadramento:
É o "recorte" da imagem e pode ter a ver com o formato da superfície
em que você desenha, pinta, compõe a imagem. Ex: redondo, retangular, etc.
(diferenciar do enquadramento no cinema)
Suporte:
É o “recipiente” do trabalho artístico, que pode ser o papel, uma tela,
madeira, uma parede, o corpo do artista ou de outra pessoa, etc...