Tirei um tempinho pra tentar uma modificação em controle de Master System: adicionar microswitch no direcional pra ver se ele fica bom:
https://youtu.be/aS2cqm0dqOIquinta-feira, 18 de setembro de 2025
Novo vídeo em Anatomia Retrogamer
segunda-feira, 15 de setembro de 2025
Participação no 31º Açor
E lá fomos nós, eu e meus pais, para mais uma participação na festa anual da Cultura Açoriana, o Açor de número 31. Como de costume, compilei um vídeo com os registros desses três dias, de sexta a domingo, logo abaixo, e também quero fazer breves observações sobre a "saída de campo":
Como sempre, é legal levar o game para esses espaços culturais, que não são feira de games, por que isso surpreende as pessoas, desloca e cria um espaço "diferente", e também por que as crianças se sentem mais a vontade para jogar, e como jogam. Como é o terceiro Açor que tem a presença do game Bruxólico, algumas das crianças dos grupos de Boi de Mamão (vindos de várias cidades do estado de SC e até um grupo de SP), já o conheciam das vezes anteriores, e ficaram felizes de reencontrar e poder jogar novamente o Bruxólico.
Vi criança trazendo amiguinho pelo braço para apresentar ao game: "Vem ver, é muito legal". Vi outras arrastando os pais dizendo "vem ver, foi ele quem fez", ou ainda fazendo questão de me dizer que lembravam do jogo. Um menininho veio até mim para dizer em suas palavras que "é muito boa a tua pixel arte". Alguns dos meninos e meninas viraram "clientes", voltavam com frequência e se sentiam desafiados pelo game: jogavam e ficavam felizes quando chegavam mais longe (uma, duas, poucas telas mais longe que da vez anterior, efeito interessante do game "tela a tela", ou "flip screen", e retomarei esse gancho ao final do texto).
Crianças dos 6 aos 12 anos de idade ao redor do fliperama, ensinando umas as outras como jogar, as vezes explicando do que se tratava o game. Vi meninos que tinham acabado de se conhecer conversando sobre o game e se revezando em jogar, se ajudando mutuamente e torcendo para o outro passar de fase.
Mas a cena mais bonita, para mim que tomei inspiração na obra do Franklin Cascaes para criar o game Bruxólico, aconteceu no domingo. Uma menina de uns 8 anos de idade, também de um dos grupos de Boi de Mamão, que já conhecia o game de antes, estava bastante interessada na parte da história do game. Em dado momento eu me dei conta que ela havia sentado no chão, em frente ao manequim da Bruxa que enfeitava o stand. Aos pés da bruxa estava o livro "O Fantástico da Ilha de Santa Catarina", do Cascaes, e a menina ficou ali sentada por vários minutos folheando, observando as ilustrações e lendo um pouco dos contos. Saber que o game Bruxólico despertou nela a curiosidade com o livro do Cascaes foi algo que me encheu de alegria.
quarta-feira, 3 de setembro de 2025
Uma das consequências das IAs...
Estava aqui pensando sobre o quanto a "cultura" na internet é fugaz, efêmera, de como tudo é acelerado, e do quanto as pessoas não tem mais paciência com nada por conta do vício em vídeos curtos e recompensa imediata. E pensando nisso, me ocorreu que agora as IAs (sic), esses programas de geração de imagens baseados em bases de dados gigantescas, deve colocar mais uma pá de cal neste caixão, e ainda trazer essa aceleração aos que trabalham e criam imagens com estas ferramentas.
Quem é artista, cria imagens, música, games, o que for, sabe que parte do prazer está no processo, nas epifanias, que podem ocorrer durante a feitura do trabalho de arte, culminando no êxtase do resultado final. Ver algo que antes estava apenas na sua imaginação materializado na sua frente, poder mostrar à outras pessoas o que antes estava solitariamente trancado dentro de sua cabeça, é um dos prazeres do artista. Também tiramos prazer das pequenas dissonâncias e acidentes, naquilo que saiu diferente do que imaginávamos, mas que muitas vezes são gratas surpresas do produto final do trabalho artístico. E esse resultado não seria a mesma coisa sem o processo de maturação e feitura, sem a caminhada pela trilha até o mirante que é o ponto final da criação.
Mas em um mundo onde só se fala do quanto as redes sociais viciam as pessoas em descargas imediatas de dopamina no cérebro, as IAs devem acelerar ainda mais as coisas tanto para quem produz quanto para quem consome.
Eu tenho a nítida impressão de que o público que consome arte em geral, no meu caso atual principalmente os games, que já vinha se tornando cada dia mais impaciente, deve passar a ter cada vez mais pressa para ver o resultado de um projeto, sem a disposição para esperar ou acompanhar o desenvolvimento de um projeto. As tais IAs (sic) já ervem para acelerar estrondosamente o processo de criação de imagens, músicas, vídeos, daqui a pouco games, e sabe-se mais o que virá. O resultado é quase imediato, reduzindo todo um estudo e jornada a um mero prompt.
Como isso afeta aos artistas, em especial os independentes? Acho que é um tanto fácil de perceber, que mesmo que você não se utilize dessas ferramentas de geração sintética de textos, imagens, música, etc, você também será afetado por isso. Não só pela concorrência desleal que vai roubar e precarizar ainda mais os empregos no setor, mas por que o público vai passar a ter outra exigência em relação ao tempo de produção. Sempre vão existir os que querem algo mais denso para deglutir, mas a maioria das pessoas vai ser ainda mais acostumada a uma papinha cada vez mais processada.
Hoje, em uma cultura atomizada, ao mesmo tempo que homogeneizada pelos algoritmos, já é difícil par qualquer produtor independente encontrar seu público. Mas a deformação de um público cada vez mais condicionado à recompensa imediata vai tornar essa tarefa ainda mais difícil. Não é de hoje que o processo importa mais para o próprio artista, ou para seus pares ou entusiastas, enquanto para a maior parte do público importa mais o resultado final. Mas a coisa deve alcançar um outro nível de separação entre o processo e o resultado, até por que os processos internos que a IA utiliza são completamente obscuros para quem dá o input de prompt.
A sensibilidade social e estética das pessoas vai se moldar a essa nova realidade, tornando-as ainda mais imediatistas, exigindo dos criadores uma velocidade literalmente inumana. Estaremos todos desejosos de um gozo rápido, imediato, e por tanto incompleto e mixuruca de uma punheta mal batida. Um gozo de um segundo para quem cria uma imagem escrevendo um prompt em uma IA, e um gozo de centésimos de segundos para quem consome o tal “conteúdo”.