Decidi o seguinte: este ano vou dar início agora, comecinho de agosto, a atividade experimental de produção de um game, até final de novembro. Serão dois bimestres de atividades com pré-produção e produção efetiva do game. Um game por turma, e farei o mesmo com todas minhas 6 turmas (duas de cada série do ensino médio). mais pra frente vou publicar meu cronograma de atividade aqui (que eu já estou aplicando).
Cheguei a essa decisão depois de muito pensar sobre minha recente infelicidade com o andamento de minhas aulas. Decidi então que todos os anos devo proceder parecido: um planejamento único para todas as séries, sendo que cada ano vou planejar coisas totalmente diferentes do ano anterior. Explico melhor: esse ano vou fazer o game com todas as turmas. Em outro ano, posso trabalhar cinema e animação (exercícios, até terminarmos fazendo uma animação ou filme). Em outro ano posso trabalhar música e produção de narrativas sonoras com todas as turmas, e assim por diante.
Na faculdade as vezes somos contaminados por alguns vícios estranhos... Um deles é achar que nós, que estamos no ambiente acadêmico, somos de alguma forma mais "pensantes" do que que está na sala de aula, fazendo o trabalho "braçal" do chão de fábrica. Agora, do outro lado, vejo o quanto somos induzidos a certas conclusões equivocadas. Quando alguém falava de um professor que aplicava o mesmo planejamento para todas as turmas e séries, era sempre para descartar a ideia. No entanto, por mais óbvio que seja, ninguém levava em conta a possibilidade de fazer um planejamento anula diferente. Igual para toas as turmas naquele ano, e no ano seguinte, um novo planejamento com outras atividades, novamente para todas as turmas e séries. Em primeiro lugar, isso torna o trabalho do professor mais humano e agradável (sério, a preparação da aula pode tomar muito, mas muito tempo e energia). E depois, vem a questão A/R/Tográfica....
Tanto o pesquisador, quanto o artista, tem a prática de mergulhar de cabeça em um objeto de estudo único. Durante um período de tempo (que pode ser de um ano), artista e pesquisador se debruçam em pesquisar os limites de seu objeto de estudo. O Pesquisador tenta ir a fundo coletando mais dados, bibliografia, realizando novos estudos de campo, etc. O Artista experimenta as possibilidades do seu material de estudo, ou os limites de seu suporte ou estilo estético, e por ai vai. No entanto, ao professor, em geral induzido pela forma de nosso tipo de ensino, é vedado esse aprofundamento. Tudo é picado pro professor: aulas picadas, conteúdos picados para cada turma: agora estou aqui trabalhando narrativa visual, dali a 5 minutos estarei trabalhando música, e 50 minutos depois estarei trabalhando cerâmica. Nesse ponto, parece impossível conciliar o professor com o artista e pesquisador. Bom, não é o que eu pretendo.
Ao fazer um planejamento único para o ano (e sem distinção de séries), pretendo conciliar o professor com o artista e o pesquisador em mim no quesito aprofundamento e imersão. Assim pretendo construir para mim a liberdade de levar à sala de aula aqueles temas e/ou experiências nas quais estou interessado a aprofundar naquele ano. Eu saio ganhando, e as aulas e consequentemente os alunos também, pois potencializo a qualidade de minhas aulas, pesar da maré contrária do ensino público (e não canso de repetir, no estado de SC, precário e jogado às baratas).
Assim decidi. Sei que estou em situação privilegiada, não terei oposição para com minha metodologia lá na escola, até por que o professor de arte (ainda) tem a liberdade de escolher o que levar para a escola (temos parâmetros curriculares, mas não um currículo fechado por conteúdos cronologicamente). No futuro espero encontrar sim resistência a essa metodologia, até lá quero ter a experiência acumulada para legitimar minha escolha para além deste texto ensaístico e quase pessoal.