terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Internet Zumbi

(English version on the bottom)

Internet Zumbi


A internet das redes sociais é mesmo uma coisa morta-viva, um zumbi que serve mais a grandes corporações que outra coisa. Claramente somos nós quem servimos às tais plataformas, e não o contrário.

Faz algum tempo que eu digo a mim mesmo que “é o preço” que tenho de pagar, para muitas das minhas escolhas como artista. Se tenho pouco alcance, se meus games ou minha arte não alcançam sucesso econômico, se eu vivo pobretão, é em parte uma escolha consciente que faço para manter uma margem de liberdade como artista. E digo uma margem, por que eu também não consigo ser dono de todo o meu tempo.

Mas isso seria tema para outro papo, o que eu quero destacar agora, e tem relação com essas escolhas, é o fato de que atualmente as maiores “plataformas” da internet, facebook, youtube, etc, estão punindo os usuários que fazem postagens contendo hyperlinks. E punição é a palavra correta, até porque nestas plataformas, hoje em dia, não existe mais “alcance orgânico”, mas sim bloqueios que limitam mais ou menos o seu alcance. Se você for um “bom criador de conteúdo”, e seguir as “guidelines” do momento, aquilo que eles consideram como o tipo mais desejável de postagem em suas redes, a plataforma vai lhe bloquear menos. Se não, o filtro é colocado em ação e seu alcance é freado.

Faz uns meses que eu estou ciente disso, e me nego a deixar de colocar links nas minhas postagens. Acho isto aviltante. O hyperlink foi uma das grandes “invenções” da internet, uma tecnologia que praticamente definia o que era, já foi, a internet e suas interações. Essa internet definitivamente morreu e foi revivida como um zumbi, carcaça moribunda que se arrasta e tem o nome de “plataformas” ou “redes sociais”.

O hyperlink é a forma que ainda temos (ou tínhamos, se você quer ser um “criador de conteúdo” de sucesso, aparentemente) de fazer estas plataformas trabalharem, nem que fosse um pouquinho, para nós. Se quero mostrar minha arte, minhas criações, coloco um vídeo no youtube, escrevo em meu blog, e depois posto o link nas redes sociais. Ou mesmo, posto algo em uma rede social, e depois posto o link em outra.

Pelo visto, liberdade é o oposto do que temos nas tais plataformas. Já tem sido dito em alto e bom som que estes são espaços privados, e não públicos. As plataformas têm donos, endereço, com rosto,e até perfis de super vilões de gibis, e estes podem inclusive arbitrariamente lhe calar neste espaço. Não pensem que as tais “regulamentações da internet”, que acontecem em todo o mundo, virão para melhorar isto, mas pelo contrário, acho que virão para dar ainda mais poder arbitrário aos donos das plataformas, tudo em nome do combate à extrema direita, mas operado por aqueles que são “a outra” extrema direita, supostamente democrática. Nada que venha da burguesia vem para o bem, parece que tem um bocado de gente de "exquerda" que se esqueceu disso. Mas isso tbm dá outro assunto....

Em fim, a punição ao hyperlink para mim é um sinal de que a internet realmente morreu. Somos almas penadas das redes sociais, perambulando como se ainda estivéssemos vivos, balbuciando coisas ao vento enquanto nos alimentamos de velhas carcaças.


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English Version:

Zombie Internet


The internet of social networks is truly a living-dead thing—a zombie that serves large corporations more than anything else. Clearly, we serve these platforms, not the other way around.

For some time now, I’ve told myself that "it’s the price" I have to pay for many of my choices as an artist. If I have little reach, if my games or art don’t achieve economic success, if I live modestly, it’s partly a conscious choice to maintain some margin of freedom as an artist. And I emphasize some margin because I can’t fully own all my time either.

But that’s a topic for another conversation. What I want to highlight now, and it relates to those choices, is the fact that the biggest “platforms” on the internet today—Facebook, YouTube, etc.—are punishing users who post hyperlinks. And punishment is the right word, because on these platforms nowadays, there’s no such thing as “organic reach.” Instead, there are barriers that limit your reach to varying degrees. If you’re a “good content creator” and follow the current “guidelines”—what they consider the most desirable type of post—the platform will block you less. If not, the filter kicks in, and your reach is throttled.

I’ve been aware of this for months now and refuse to stop adding links to my posts. I find it degrading. The hyperlink was one of the great “inventions” of the internet—a technology that practically defined what the internet was (and used to be) and its interactions. That "world wide web" has definitively died and been resurrected as a zombie—a decaying carcass that drags itself around, now called “platforms” or “social networks.”

The hyperlink is one of the few ways we still have (or had, if you want to be a “successful content creator,” apparently) to make these platforms work, even slightly, for us. If I want to showcase my art or creations, I upload a video to YouTube, write on my blog, and then share the link on social networks. Or even post something on one network and then share the link on another.

It seems, however, that freedom is the opposite of what we have on these platforms. It has been loudly and clearly stated that these are private, not public, spaces. The platforms have owners, addresses, faces, and even profiles straight out of comic book supervillains. These owners can arbitrarily silence you in their domain. Don’t think that the so-called “internet regulations” being introduced worldwide will improve this situation. On the contrary, I believe they will grant even more arbitrary power to platform owners, all under the guise of combating the far right—yet enforced by those who are “the other” far right, supposedly democratic. Nothing that comes from the bourgeoisie brings good; it seems many on the “ex-left” have forgotten this.

Anyway, the punishment of hyperlinks, for me, is a sign that the internet is truly dead. We are the wandering souls of social networks, roaming as if we were still alive, mumbling into the void while feeding on old carcasses.




Obs: Não consegui fazer a postagem no Instagram, usando a mesma imagem e texto que usei nas outras "Plataformas". Tentei várias vezes, mudar a imagem, mas pelo visto eles não gostaram da minha postagem...


2 comentários:

  1. Fechei minha conta no twitter e não me arrependo. As últimas alterações que só servem para tornar a plataforma mais tóxica e hostil me radicalizaram. Recomendo ir para o Mastodon, rede social federada descentralizada que não é gerenciada por algoritmo.

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    1. Sim, Twitter virou um lixão. Não vou dizer que todas as redes são iguais, tem piores como o Elão Mosca está provando (nada é ruim o bastante que não possa piorar), mas tem algo que é da natureza das redes sociais, não importa quão bem intencionados seus criadores pareçam, que pra mim é algo da sua estrutura de funcionamento, a economia de likes, e os algoritmos que servem de curadoria automática, que fazem todas elas serem ruins em última análise. Mas sigo nelas, por necessidade. Apenas, penso em usar cada vez menos, e de forma pontual, como quando eu tenho um lançamento novo, ou uma postagem nova no blog.

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