quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Perder para achar...


Estes dias passei meio perdido em relação a este Blog, sem saber como dar continuidade as postagens e a prática do diário a/r/tografico.

Mas como sempre é da experiência viva (o que alguns chamariam de prática) que saem caminhos possíveis a se trilhar. E decidi:

Todas as atividades que eu pedir para os alunos fazerem eu também vou me propor a fazer. Se eu faço questão de colocar eles na falta do real para ativar sua criação, tenho de me colocar nesta mesma falta também.

Não se trata aqui da descrição das atividades que vou fazer com meus alunos, mas sim, recriar a narrativa destas atividades assumindo elas como minha prática também.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Próxima aula com os primeiros anos...

Para os primeiros anos, com quem quero trabalhar de início o desenho, autoria compartilhada, e desmistificar o discurso do "não sei desenhar", pedi que cada um trouxesse um desenho de uma criança entre 3 e 6 anos de idade. A ideia é passar algo sobre luz e sombra, degradês, hachuras, e fazer com que eles treinem pintando desenhos de crianças pequenas. Além disso, o fato de eles terem de se relacionar com uma criança, pedir um desenho feito especialmente para eles, assinado pela criança, tem um conteúdo relacional sobre respeito, afeto, e autoria compartilhada.

A pergunta é: será que a maioria fez a tarefa e foi atrás de uma criança pequena pedir um desenho?

A ideia para esta atividade partiu da notícia sobre o pai que coloria os desenhos das filhas:

O que acontece quando duas crianças deixam o pai colorir seus desenhos


Replanejando....


Avaliar a própria prática é sem dúvida necessário. Assim, a aula que dei para um primeiro ano na segunda feira, que foi chata e maçante, pode ser reestruturada para ser mais dinâmica com outra primeira série no dia seguinte. Cometi o erro bobo, a princípio, de fazer uma aula faixa basicamente com a minha fala. Que saco, nem sei como alguns aguentaram. Deixei para o final a atividade com um "desenho diagnóstico", onde eles desenharam e escreveram atrás sua opinião a respeito do desenho. No dia seguinte, fiz diferente: fala introdutória, atividade de desenho diagnóstico, conversa sobre os desenhos, e a o restante da fala com conteúdos sobre as fazes do desenho da criança.

Uma simples troca de ordem do planejamento da aula mudou completamente o envolvimento dos alunos. Ta ai algo que eu já sabia, mas o exercício de retomar e refletir sobre a prática é algo que nos força a pensar com maior agilidade.

Hoje to com preguiça de criar uma imagem, vou usar uma da internet que tem relação com meu sentimento para com a prática de um diário além da referência a meu próprio repertório cultural.


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

"Se eu dava aulas tão bem dadas, por que razão haviam alunos que não aprendiam?"


Quando se fala o nome "Escola da Ponte" surgem alguns sorrisos amarelos, risinhos baixos e de lado, como se a experiência desta escola fosse algo a ser desconsiderado por ter um modelo diferente. Talvez se esqueça do fato de que seus alunos tem os melhores índices nos testes nacionais em Portugal. Quando Zé Pacheco diz que "quem faz educação, não fala a respeito, e quem fala não faz", ele nos motiva a seguir em frente como educadores que não param de pesquisar e refletir sobre sua prática.

Mais um motivo do por que a a/r/tografia me atrai, pois através de sua prática me vejo como educador, pesquisador, e artista, produzindo comigo e com os alunos cosias que eu gosto. Bom, fiquem com uma pequena grande fala de José Pacheco:

http://www.youtube.com/watch?v=mxCPK0mRqC8

Meu "pessimismo"...


Antes que alguém confunda, quero deixar claro o objeto a que se dirige meu aparente "pessimismo".

Sou otimista no que diz respeito as relações de ensino e aprendizagem entre as pessoas: elas acontecem desde sempre, muito antes da existência da escola, e se não existissem, não teríamos a cultura e tecnologia que temos hoje. Como o desenvolvimento de tudo na cultura (entendida aqui como conhecimento humano que modifica a matéria e o espírito), as relações de ensino e aprendizagem vão se especializando: pessoas se dedicam a experienciar ela de forma plena, pesquisam, praticam, teorizam. Não fosse esse meu otimismo, hoje eu seria qualquer outra coisa menos educador.

Mas o que por vezes vou retomar, e que me enche de angústias, são os limites estreitos da atuação dentro da instituição "escola moderna", essa que deve muito as consequências da revolução industrial. Essa escola que funciona como fábrica, com suas sirenes, tempos e espaços de máquina, desumanizados. Explico: quando pensamos em fazer algo, pesquisamos, experienciamos e pomos em prática, temos uma sirene que nos dá apenas 40 minutos, de um momento específico, para fazer isso? Só mesmo na "fábrica" e na "fábrica de gente entediada" que (não)funciona assim.

Se eu planejo uma atividade de artes, e sei que ela pode ser realizada em 20 minutos, tenho de adequar ela aos 40, 45 minutos de uma aula, "enchendo linguiça". Se a atividade exigia 2 horas, tenho de picar ela, ou retirar partes relevantes para novamente adequar ela ao tempo da fábrica. Na vida não é assim que aprendemos, por que tem de ser assim na escola?

A escola fruto do pós revolução industrial também carrega algo que muito me incomoda: seu caráter de depósito de crianças. Os pais precisam trabalhar, ir para a outra fábrica, e o que fazer com seus filhos? Para muitas pessoas, incluindo as que estão na escola, pouco importa averiguar se há verdadeiro aprendizado, mas conta mais que os alunos "estejam na escola e não fazendo bobagem por ai". A sociedade, em geral, se contenta com o fato da escola ser um grande depósito de jovens, para eles "não incomodarem".

Cada vez mais penso que a suposta crise da escola que vivemos é outra coisa. A escola moderna já está em crise faz tempo, ela não é eficaz em gerar relações de ensino e aprendizagem. Doze anos da vida de um jovem, na escola, e você pede pra ele dizer o que aprendeu lá, e garanto que em menos de meia hora ele verbalizará tudo que consegue se lembrar. Se ele tivesse experiências plenas de sentido para contar, isso seria diferente, pois ele teria de narrar as experiências.

O que está em crise hoje é o depósito de jovens. O terror que as pessoas nutrem com relação ao mundo, grande parte estimulado pela mídia, também invade a escola, e ela parece um depositório menos eficiente para os jovens "não fazerem besteiras por ai". O mundo lá fora tornou-se demasiado interessante para a escola conseguir domar e domesticar seus alunos com a mesma eficiência de antes. Alguns pensam que a solução é midiática: fazer da escola um circo tecnológico, impressionar pais e alunos com um ambiente de ensino hightech. A tecnologia tem de ser usada a nosso favor, mas não é ela por si só que vai nos fazer avançar nas relações de ensino e aprendizagem.

Apesar destas considerações, prefiro estar lá na escola, nadando contra a corrente, e escovando a contra pelo.


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Hoje eu vou dormir feliz...



O primeiro dia de aula...


Dizer que a educação estadual está sucateada é senso comum, mas ver isso de dentro é elevar a situação ao quadrado. Levarei alguns dias para dizer tudo sobre este um dia. Mas hoje vou me ater a um sentimento que foi forte, que abate o professor em sala de aula, e do qual nunca haviam me falado: a solidão.

É solitário estar na figura do professor. É solitária a relação com a direção, que trata o professor, em primeiro lugar, não como educador, mas como um "empregado", um possível "vagabundo" que a priori não tem responsabilidade e fara de tudo para matar serviço. Não há relação de pertencimento aqui.

É solitária a relação com os colegas professores, com quem temos muito pouco contato, apenas alguns minutos antes das aulas, e durante o curto intervalo. Nesse contato, sobra tempo apenas para reclamar das mazelas de ser professor, algo que não chega a lugar algum, e a mim não serve para me reconhecer diante do colega.

É solitário na sala de aula, onde existe um abismo entre professor e alunos. Essa solidão tem solução, com muito trabalho de "convencimento" dos alunos a se interessarem pelas atividades que você propõe, e virá apenas depois de alguns meses. Mas a instituição "escola" não contribui para ela. Os interesses dos alunos são uns, o do professor são outros, sendo que os primeiros estão ali por obrigação (e os segundos não?).

Se os interesses não convergem, não há pertencimento, e somos solitários. A instituição "escola moderna", que nasceu com a modernidade histórica, é feita para nos por em situações de "obrigatoriedade", de falta de escolha dos interesses. Não há como culpar a falta de interesse dos alunos nesse ambiente. Ao professor fica a tarefa difícil de "convencer" os alunos que seu conteúdo é "importante" e interessante.

Uma de minhas tarefas, como professor, é não terminar o ano me sentindo só. Em relação a estrutura escolar, aos colegas e direção, não tenho esperanças. Minha aposta é nos alunos. Terminar o ano com interesses convergentes não significa que apenas os alunos devem ser convencidos do meu desejo, mas que eu terei de me abrir aos desejos e interesses deles, para acharmos o ponto de convergência e não nos sentirmos solitários.




domingo, 16 de fevereiro de 2014

O guia cego...


Planejar aulas é, as vezes, se sentir como um cego que guia aqueles que enxergam. Quem somos nós pra decidir o que conhecimento será importante ou não para outra pessoa? Deixando as crises de lado, até por necessidade imediata, a resposta que me vem a mente é: alguém não tão diferente daqueles que planejaram o que é ou não é conteúdo a ser ensinado nas escolas.

Escolas, espaço que pretende monopolizar o ensino e a aprendizagem. fútil insistir contra algo humano: o ato de aprender em todos os lugares e momentos da vida. Com sua pretensão, a instituição escola vira uma caricatura do ensino/aprendizagem: lá se aprendem anedotas de aprendizados reais. Por vezes se aprende a fazer uma anedota de um texto, mas não um texto. Se aprende a fazer uma anedota de uma História em quadrinhos, de um desenho, de uma casa, ou qualquer coisa que se queira a prender. Mas não se aprende a fazer a "coisa real", com aplicação prática.

Se tem algo que posso considerar nos meus planejamentos é não fazer atividades que tenham como resultado final uma anedota, uma simulação, um fake. Mas sim, fazer coisas que existam na realidade, não apenas como representação, ou pior, piada de mau gosto com a inteligência dos alunos, que é a mesma de qualquer ser humano.


Uma apropriação de Banksy (que outrora se apropriou de outras imagens)...

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O que é um diário a/r/tográfico?


Pra começo de conversa, não falo aqui de nenhum diário burocrático, exigência documental estéril de nosso sistema de ensino que caminha a passos mais lentos que o mundo que o circunda. Como espaço de reflexão do professor, um diário serve para registrar o que nos afeta na experiência educacional. Ali vão angústias, sucessos, fracassos, e demais notas para reflexão. Ou seja, na elaboração do diário é que conhecimento gerado a partir da experiência como professor, no meu caso, como professor de artes.

A/r/tográfico por que além de permitir a contaminação entre as figuras do artista, pesquisador, e professor, a percepção desta contaminação se dá pelo registro gráfico, seja com palavras, imagens, ou da mistura de ambos. Como um tipo de produção estética e ética este diário deve servir como forma de dialogar e divulgar ideias e experiências vividas como professor de artes do Ensino Médio. Também, um empurrão para um professor que deseja se manter ativo na sua produção, sem tornar ela apenas um momento de isolamento. Pelo contrário, não cabe ao professor de artes ser o artista que se tranca na caverna para criar representações do mundo lá fora, mas sim, criar de maneira compartilhada e interferindo no real a sua volta.

Como registro de quem é apaixonado por sua área caberão aqui mais perguntas, dúvidas, angústias, que respostas. Muito do sentido que geramos a partir de nossas experiências é provisório. O provisório, quando interessante, nos acompanha, e nós o testamos até seus limites, para dali ficar com algo e seguir a diante. Não posso prometer ausência de contradições, apenas que prefiro explicitar aquelas que descubro, na busca de sua superação.



#diário