(English Texto on the Bottom)
Guerra em jogo (War Game), acrílico sobre tela, 2010, Amaweks
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IAs e a eliminação do “ruído humano”.
Toda essa onda
de "arte de IA" (sic) tem me feito pensar a respeito de muitas
questões. Quero falar aqui de questões filosóficas (mas nem por isso
idealistas), com possíveis consequências socioculturais, que se colocam sobre
nós com toda esta euforia de criação automatizada de imagens.
Panorama:
A indústria
desde sempre tenta eliminar o "ruído humano" da sua equação de
produção. E por ruído, por enquanto, vamos entender toda a imprevisibilidade tipicamente
humana. No momento que surgiu uma verdadeira indústria cultural, produzindo e
vendendo cultura para as massas, esta questão também chegou à cultura. Conforme
a arte, aplicada nesta indústria pelo "design", vai se tornando cada
vez mais ligada a propaganda, ao marketing como dizem, mais o ruído humano precisa
ser eliminado. Acredito que com as ditas IAs este objetivo pode ser finalmente
alcançado pela indústria.
E isto nos
traz neste ponto. Para mim, a arte reside exatamente no "erro", no
imprevisível, no inesperado aplicado à estética, ou seja, no "ruído".
É para mim então completamente incoerente o uso da expressão "arte de
IA". Expressão essa que considero em primeiro lugar sinônimo de neocolonialismo
disseminado nas áreas de administração, propaganda, e design, que são taradas
por palavrinhas em inglês que parecem tornar muito complexos e especiais seus
conceitos (sic) e técnicas aplicadas. Nos EUA é comum se utilizar o termo
"art" para qualquer tipo de imagem, seja ela criada para fins
estéticos e/ou comerciais, de marketing, etc. Não é assim no português, ou não
era assim, mas ignorando isto simplesmente adotamos o termo sem muito sentido "arte
de IA".
Pois bem, voltando
á questão do ruído, para mim ele é um dos fatores que cria aquilo que alguns
sentem como "alma" da arte. Quem se dedica a fazer arte, e pesquisar
arte fazendo arte, sabe que é na experimentação e no erro que descobrimos ou
inventamos técnicas, efeitos, sentimentos, expressados através de nossa
produção. Até na ciência isso ocorre, mas não vou aqui desviar o tópico. O
ruído surge por vários motivos: como os erros e limitações técnicas do artista,
dos materiais e ferramentas que ele tem a disposição que podem não ser os
ideais, mas também do o seu inconsciente, suas questões mal resolvidas,
sentimentos e ideologias de mundo. E é exatamente isso que esta tecnologia de
automação vem para eliminar.
Eu tenho visto
algumas destas imagens geradas nestes programas de automação, e comparado com o
texto de entrada, o “Input”, que as pessoas escrevem para solicitar tal geração
de imagem. É interessante de ver o quão estes textos soam "tecnicistas",
explicitando uma iluminação aqui e acolá, um rosto assim ou assado, e tais ou
quais elementos. Já foi dito que estas IAs exigem um rebaixamento da
inteligência humana (ver
este texto do Cinegnose) e eu concordo, e digo que em breve acontecerá com
aqueles artistas que, muito por necessidade e sobrevivência, já se prestam a
adaptarem-se ao mercado. Eu lamento dizer a estes colegas, que se eles precisam
sobreviver e tem de fazer isso, é uma escolha deles, mas o que já estão fazendo
é apertar parafusos, e não criar arte.
Como já
citado, esse é o cenário ideal para o mercado. O tal do mercado gosta de
eficiência, e o ruído humano sempre foi um problema para tal objetivo. O ruído
humano pode criar reflexão da parte que consome, pode fazer a pessoa parar para
pensar nem que seja por 1 segundo, enquanto o ideal da propaganda é atuar pelo
inconsciente e entrar na cabeça sem o sujeito se quer dar-se conta. Imagens
"livres" de ideologias, melhor dizendo, livres de ideologias que não
as dos donos das marcas e do capital. Isto já acontece hoje, mas o nível de eficiência
que estes aplicativos de automação devem trazer nesse sentido será nunca antes
visto.
Que arte buscar neste mundo que já está ai?
A cada ano,
cada mês, temos a confirmação de que nossa aposta, minha e de alguns outros
artistas, contida em nosso "Manifesto
da Arte Anacrônica", está de fato antenada com o espírito de nosso
tempo. Por que a arte que propomos, e a que fazemos já a algum tempo, exploram
exatamente o ruído, a imperfeição, nossa ou mesmo aquele ruído que é possível
extrair das tecnologias disponíveis. Para quem desejar ainda fazer arte, será
preciso buscar este ruído, mesmo para quem se utilize de ferramentas digitais,
ou talvez ainda mais para estes.
Nossa proposta,
além de muitas outras cosias que estão no manifesto, é de que precisamos
absorver as tecnologias, e não sermos absorvidos por elas. E como fazer isto?
Explorando as imperfeições da máquina, o ruído, aquilo que o mercado tenta
eliminar. É preciso somar o ruído da imperfeição da máquina ao nosso próprio
ruído. Assim é possível produzir arte, criação estética humana, utilizando de
ferramentas que a tecnologia nos tornou acessível. E para tanto é preciso
subverter os usos destas tecnologias: não é por que a moda agora é IA que vc
vai focar nisso, e não é pq o "ismartefone" é utilizado quase sempre
pra se acessar as redes sociais que devemos utilizar eles apenas para isto.
Nós temos
ilhas de edição de vídeo e som na palma de nossa mão, e não estamos sabendo
utilizar. Como já disse o Luiz Souza, os “ismartefones” são “armas na guerrilha
cognitiva” do nosso tempo, mas não sabemos bem utilizar. Alguém pode dizer, “ah,
mas não dá de editar um vídeo em HD no meu celular". E quem disse que vc
vai fazer arte produzindo um vídeo em HD? É exatamente no vídeo em baixa
resolução, na tecnologia obsoleta, no erro e no ruído, que você pode encontrar
uma estética a explorar e experimentar, dizer algo. Eu vou exemplificar isto bem
com trabalhos do meu amigo Luiz Souza, e com minha própria produção.
O Luiz, além
de escritor de mão cheia (leia
alguns contos aqui), tem a algum tempo feito ótimas pinturas, carregadas de
carga narrativa, e experimentos de vídeo arte interessantíssimos tanto do ponto
de vista narrativo quanto visual. Por vezes ele cria novas imagens e vídeos
através da manipulação da incidência da luz sobre suas pinturas, dando outro
sentido e carga emocional para a imagem (veja
aqui). Ele tem deliberadamente criado muitos exemplos de como se pode
utilizar as ferramentas que quase qualquer criança tem hoje a mão para criar
arte.
Luiz Souza não
apenas não preocupa-se com a perfeição da imagem, como absorbe todo o ruído
possível. Múltiplas imagens e vídeos, e sons, rodando na tela de seu
computador, sendo novamente capturadas pelo telefone móvel. Imperfeições no já
sucateado monitor, repleto de listras coloridas e artefatos aleatórios, além
sobreposição de áudios, e nem por isso esta Babilônia é sem razão de ser, visto
que quase sempre tem forte discurso político (aqui).
E os materiais
que Luiz Souza tem utilizado são quase todos baratos ou sucatas: papel barato,
tinta barata, lâmpadas coloridas, computador e telas com 15 anos de idade,
telefone celular já fora de moda. Sua ilha de edição de vídeo é a própria tela
do computador, e ele como um DJ edita "ao vivo" enquanto o telefone celular
captura tudo novamente, juntamente com todo o "ruído" de imagem e som
que este método proporciona. O trabalho dele mostra que ir na contramão da assepsia
do mercado é o que vai distinguir um trabalho de arte de uma imagem da
publicidade.
Em minha produção
também faz algum tempo que exploro este ruído. A princípio de forma mais inconsciente:
eu utilizava os recursos que eu tinha a mão, e não esperava ter um estúdio ou
ilha de edição para produzir minhas músicas, animações, ou de 9 anos para cá
também videogames. O que de início era por necessidade, e ainda o é também,
passei a absorver e explorar como parte do meu trabalho. Até hoje construo
instrumentos musicais com sucatas, e realmente gosto da sonoridade da
imperfeição. As escalas de meus instrumentos tem "temperos" exóticos,
mesmo usando a escala ocidental as notas não saem perfeitas. Não me preocupo
muito se o instrumento fica meio torto, e é na verdade tudo isso que os torna
únicos (veja
alguns aqui).
A algum tempo
tenho focado na criação de vídeo jogos. E aqui tbm minhas limitações técnicas
pessoais e de equipamentos acabaram por se tornar intencionais: eu tenho criado
jogos para sistemas completamente obsoletos. Meus últimos jogos são feitos para
um computador de 1982, o ZX Spectrum. Ainda que o aparelho real tenha virado
artigo de luxo, peça de museu ou item cobiçado por colecionadores, seus jogos
podem ser executados em qualquer sucata de computador moderno ou telefone
celular, através de emuladores gratuitos. As imperfeições e limitações dos
sistemas obsoletos me fascinam, estimulam minha criatividade, e me fazem
encontrar estéticas únicas. São jogos que dificilmente podem ter sucesso
comercial, mas sigo tentando fazer arte através deles. E a partir dos temas dos
jogos autorais sigo produzindo imagens, gravuras, vídeos, livros, tudo sempre com
aquelas ferramentas que tenho a mão. Confira mais dos jogos em meu site www.amaweks.com e o que falo sobre eles no
blog www.diarioartografico.blogspot.com
Alguém pode
não gostar da minha arte ou da que o Luiz produz, mas desafio qualquer um a
dizer que o que fazemos não tem alma. Alma, cérebro, e entranhas, vísceras. Que
não temos isso não se pode dizer do nosso trabalho. É arte produzida no
terceiro mundo, com urgência de quem vê o capitalismo se degradar e carregar a
todos com ele. É a estética do possível, a estética do precário, mas sem fazer
apologia a miséria, sabendo que não é possível esperar pelas condições ideais.
É preciso subverter os usos da tecnologia que utilizam para nos escravizar,
pois tudo hoje em relação a estas gera ao redor da palavra “controle”.
Para concluir:
Se você é um
jovem artista, ou se também mantém o espírito jovem, leia nosso Manifesto da
Arte Anacrônica, que abre a Revista
Anacronia Nº1. Saiba que se deseja fazer arte, de verdade, vai precisar
descobrir como se distanciar e distinguir das imagens da publicidade. Nas últimas
décadas toda a indústria cultural, cinemão, quadrinhos de herói, música, e
outros, tem se aproximado cada vez mais da publicidade no que lá há de pior.
Isso vai só piorar com a utilização dos programas de automação, que foram criados
para reduzir custos de produção em muitas áreas "criativas" (áreas
que são vistas na verdade como sendo de produção, de execução, mas que exigiam
algum treinamento da mão de obra mais acessível apenas as classes médias ou
superiores).
Saiba que se
tornar refém de criar imagens por estes aplicativos vai lhe afastar cada vez
mais de produzir arte. Se for uma escolha consciente, então vá, mas não se
engane. Quanto mais estes aplicativos forem aprimorados, quanto menos
"falhas" eles tiverem, ou seja, quanto mais eles eliminarem o
"ruído", mais você será, seu ser, será alienado do produto final, do “output”,
até que não sobre nada de você no resultado. Ou, eles podem ainda lhe convencer
de que o produto desta fábrica seja seu espelho, o que seria um destino
miserável. Para mim as imagens que saem dai são apenas uma casca, feita de uma
concha de retalhos retirada de um banco de dados de imagens, descrições,
calculada por um algoritmo.
Só estou
avisando, pq na verdade este destino, a nível macro econômico, deve provavelmente
ser inevitável, ao menos dentro dos rumos do capitalismo necrófilo e putrefato
em sua loucura de competição, redução de custos, escassez de materiais e crise
ambiental. O “ruído humano” vai ser eliminado de dentro para fora, e nem vai
ser por verdadeiras “inteligências Artificiais”, autônomas, como aquelas da
ficção cientifica tal qual Hal9000 de 2001: Uma odisseia no espaço, ou a Sky Net
de O Exterminador do Futuro. Não, vai ser através de programas burros, controlados
por meia dúzia de capitalistas sedentos por redução e custos e eliminação de qualquer
traço tipicamente humano de imperfeição.
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English Text
AIs and the elimination of "human noise".
All this "AI art" trend
has made me think about many things. I want to discuss philosophical issues
(but not necessarily idealistic ones) with potential socio-cultural
consequences that arise with all this excitement about automated image
creation.
Overview:
The industry has always tried to
eliminate the "human noise" from its production equation. By noise,
for now, let's understand all the typically unpredictable human behavior. When
a true cultural industry emerged, producing and selling cultural products to
the masses, this issue also affected culture. As art applied in this industry
by "design" becomes increasingly tied to advertising, or as they say,
marketing, more and more the “human noise” needs to be eliminated. I believe
that with these so-called AIs, this objective can finally be achieved by the
industry.
And this brings us to my point: for
me art lies precisely in the "error", the unpredictable, the
unexpected applied to aesthetics, that is, in the "noise". Therefore,
the use of the expression "AI art" is completely inconsistent. This
expression, which I consider primarily a synonym for neocolonialism spread in
the fields of management, advertising, and design, is obsessed with English
words that seem to make their concepts and applied techniques very complex and
special. It seems that in the US the term "art" is commonly used for
any type of image, whether it is created for aesthetic and/or commercial
purposes, marketing, etc. It is not like that in Portuguese, or at least it was
not like that, but by simply ignoring this fact, we adopted the meaningless
term "AI art".
Well, returning to the issue of the
noise, for me it is one of the factors that creates what some feel as the
"soul" of art. Those who dedicate themselves to making art and
researching art through art know that it is in experimentation and error that
we discover or invent techniques, effects, feelings, expressed through our
production. This even happens in science, but I won't digress on that topic
here. Noise arises for various reasons: such as the artist's technical errors
and limitations, the materials and tools that they have at their disposal that
may not be ideal, but also from their unconscious, unresolved issues, feelings,
and ideologies about the world. And that's exactly what this automation
technology is here to eliminate.
I have seen some of these images
generated in these automation programs and compared them with the input text
that people write to request such image generation. It is interesting to see
how these texts sound "technicality," explicitly stating lighting
here and there, a face like this or that, and such or which elements. It has
been said that these AIs demand a lowering of human intelligence (see
this text from Cinegnose, in Portuguese, use the AI to translate if you
need) and I agree, and I say that soon it will happen to those artists who, out
of necessity and survival, are already willing to adapt to the market. I regret
to say to these colleagues that if they need to survive and have to do that, it
is their choice, but what they are already doing is tightening screws, not
creating art.
As mentioned before, this is the
ideal scenario for the market. The so call “market” likes efficiency, and human
noise has always been a problem for that objective. Human noise can create some
thinking on the side of the consumer, it can make the person stop and think
even if it's for just one second, while the ideal of advertising is to act on
the unconscious and enter the mind without people even realizing it. Images
"free" of ideologies, or rather, free of ideologies that are not
those of the brand owners and capital. This already happens today, but the
level of efficiency that these automation applications must bring in this regard
will be unprecedented.
What kind of art to
pursue in this already existing world?
Every year, even every month, we
have confirmation that our bet, mine and that of some other artists, contained
in our "Anachronistic
Art Manifesto," is indeed attuned to the spirit of our time, the
zeitgeist. Why? Because the art we propose, and that we have been making for
some time now, explores exactly the noise, the imperfection, ours or even that
noise that can be extracted from the available technologies. For those who
still wish to make art, it will be necessary to seek out this noise, even for
those who use digital tools, or perhaps even more so for them.
Our proposal, among many other
things that are in the manifesto, is that we need to absorb the technologies,
and not be absorbed by them. And how to do this? By exploring the imperfections
of the machine, the noise, exactly what the marketing tries to eliminate. It is
necessary to add the noise of the machine's imperfection to our own noise. This
way it is possible to produce art, human aesthetic creation, using tools that
technology has made accessible to us. And for that, it is necessary to subvert
the uses of these technologies: just because AI is now in fashion, it doesn't
mean you should focus on it, and just because the smartphone is almost always
used to access social media networks, it doesn't mean we should only use them
for that.
We have video and sound editing tools
in the palm of our hands, and we don't know how to use them. As Luiz Souza has
said, smartphones are "weapons in the cognitive guerrilla warfare" of
our time, but used against us, and we don't know how to use them for ourselves.
Someone might say, "oh, but I can't edit an HD video on my old phone."
And who said you have to produce art by making an HD video? It's exactly in
low-resolution video, obsolete technology, error, and noise that you can find
an aesthetic to explore, experiment, and say something. I'll illustrate this
with examples from my friend Luiz Souza's work and my own art works.
Luiz, besides being a very talented
writer (read
some of his stories here), has been making great paintings for some time,
loaded with narrative content, and interesting video art experiments both from
a narrative and visual point of view. Sometimes he creates new images and
videos by manipulating the incidence of light on his paintings, giving another
sense and emotional load to the image (see
here). He has deliberately created many examples of how to use the tools
that almost any child has at hand today to create art.
Luiz Souza not only doesn't worry
about the perfection of the image but absorbs all possible noise. Multiple
images and videos, and sounds, running on the screen of his computer, being
captured again by his mobile phone. Imperfections on the already obsolete
monitor, full of colored stripes and random artifacts, as well as audio
overlays, and yet this Babylon is not without reason, as it almost always has a
strong political discourse (here).
And the materials that Luiz Souza
has used are almost all cheap or scraps: cheap paper, cheap paint, colored
lamps, 15-year-old computers and screens, outdated cell phone. His video
editing island is the computer screen itself, and he, like a DJ, edits
"live" while the mobile phone captures everything again, along with
all the image and sound "noise" that this method provides. His work
shows that going against the sterility of the market is what will distinguish a
work of art from an advertising image.
In my own production, I have also
been exploring this noise for some time. At first, it was more unconscious: I
used the resources I had at hand and didn't expect to have a studio or editing
island to produce my music, animations, or, for the last 9 years, video games.
What was initially out of necessity, and still is, I began to absorb and
explore as part of my work. I still build musical instruments with scraps, and
I really enjoy the sound of imperfection. The scales of my instruments have
exotic "seasonings," even using the Western scale, the notes don't
come out perfect. I don't worry too much if the instrument is a bit crooked,
and it's actually all of these imperfections that make them unique (see some here).
For some time now, I have been
focusing on creating video games. And here, my personal and equipment technical
limitations have also become intentional: I have been creating games for
completely obsolete systems. My latest games are made for a 1982 computer, the
ZX Spectrum. Although the real device has become a luxury item, a museum piece,
or a coveted item for collectors, its games can be run on any modern computer
or smartphone scrap, through free emulators. The imperfections and limitations
of obsolete systems fascinate me, stimulate my creativity, and make me find
unique aesthetics. These games are unlikely to have commercial success, but I
continue to try to make art through them. And from the themes of these original
games, I continue to produce images, prints, videos, books, always with the
cheap tools I have on hand. Check out more of the games on my website www.amaweks.com and what I say about them on
the blog www.diarioartografico.blogspot.com.
Someone may not like my art or that
of Luiz's, but I challenge anyone to say that what we do doesn't have soul.
Soul, brain, and guts. It cannot be said that our work does not have those
things. It is art produced in the third world, with the urgency of those who
see capitalism degrade and carry everyone with it. It is the aesthetics of
possibility, the aesthetics of precariousness, the aesthetics of the emergency,
but without making an apology for poverty, knowing that we cannot wait for
ideal conditions. We must subvert the uses of technology that are used to
enslave us because everything today revolves around the word
"control".
To conclude:
If you are a young artist, or if you
also maintain a youthful spirit, read our Manifesto
of Anachronistic Art, which opens Anacronia Magazine #1 (again, do what you
need to translate it for you). Know that if you wish to make true art, you will
need to discover how to distance and distinguish yourself from the images of
advertising. In recent decades, the entire cultural industry, blockbuster
films, superhero comics, music, and others, has increasingly approached the
worst aspects of advertising. This will only worsen with the use of automation
programs, which were created to reduce production costs in many
"creative" areas (areas that are actually seen as production,
execution, but which required some training and education of more accessible
labor only available to middle or upper classes).
Know that becoming a hostage to
creating images through these applications will increasingly distance you from
producing art. If it is a conscious choice, then go for it, but do not deceive
yourself. The more these applications are improved, the less "flaws"
they have, meaning the more they eliminate the "noise", the more you,
your being, will be alienated from the final product, the "output",
until nothing of you is left in the result. Or, they may even convince you that
the product of this factory is your mirror, which would be a miserable fate. To
me, the images that come out of these applications are just a shell, made of a
patchwork of images, descriptions, calculated by an algorithm from a database.
I think I'm just giving a warning,
because in reality this fate, on a macroeconomic level, is probably inevitable,
at least within the course of necrophilic and putrefying capitalism in its
madness of competition, cost reduction, shortage of materials and environmental
crisis. The "human noise" will be eliminated from the inside out, and
it will not even be by true autonomous "Artificial Intelligence", like
those of science fiction such as HAL9000 from 2001: A Space Odyssey, or Skynet
from The Terminator. No, it will be by dumb programs being controlled by a
handful of capitalists thirsty for cost reduction and elimination of any
typically human traces of imperfection.
Amaweks, 2023.