quinta-feira, 4 de maio de 2023

Arte Anacrônica e Tecnologias


Arte Anacrônica e Tecnologias

Arte Anacrônica é sobre se apropriar do tempo de forma crítica. É sobre se utilizar das ferramentas do presente e do passado sem cair em deslumbres tecnicistas ou nostalgias conservadoras. Abaixo um dos exemplos mais claros realizados pelo Luiz Souza:



"Não Existe Infeno não" - curta de Luiz Souza

Os experimentos em vídeo do Luiz Souza (veja outros em seu facebook) expressam um bocado do que estamos tentando dizer no manifesto da Arte Anacrônica (ver aqui). Mas elencando alguns pontos: Primeiro a imagem, que o Luiz produziu como uma pintura, e é carregada de simbolismos com a silhueta central e as portas ao fundo. Mas o quero focar é a parte do vídeo: acho que esse é um dos exemplos mais bem acabados do uso de técnicas anacrônicas para a criaçã ode um vídeo. O Luiz vem a algum tempo fazendo algo que eu só consigo ver quase como uma "edição de vídeo ao vivo", orgânica, e feita com recursos e equipamentos não só muitos simples e comuns, como até sucateados. O que ele faz é claramente é uma edição de um vídeo anacrônico.

Assistindo o vídeo fica claro o uso de recrusos como a trilha sonora, que é uma música tocando ao fundo no pc ou outro aparelho, e não uma edição pós gravação. Também fantástico e exemplar é o uso do recurso do interruptor de luz. O Luiz apaga a luz, reposiciona a camera do celular, acende, move a câmera, apaga, acende, e assim vai fazendo transições entre cenas. Com recursos que quase qualquer um tem em casa ele executa transições entre cenas, cria atmosfera e cortes na imagem ,criando assim dramaticidade e narrativa, mesmo filmando uma imagem que está estática. Ai é o ponto: a imagem está parada, mas não o Luiz, nem a câmera, nem a luz, nem o som ao redor.

Muito do que estamos tentando dizqer que é a arte anacrôncia está no procedimento tipicamente terceiro mundista, de se virar com poucos recursos. Basicamente, colcoaram nas mãos de toda a população ferramentas poderosíssimas, algo que pdoeriamos utilziar para criar cultura e consciência estética, social, ética, e inclusive de classe. Tirar estas ferrametnas de nossas mãos não é possível, por que elas são não só a grande mercadoria de hoje, como também o meio para nos manter "domesticados". O que é preciso é pdoar nossa imaginação, e não nos permitir exergar estas coisas como ferramentas.


Arte Anacrônica e as tais IAs?


Estes novos "aplicativos de automatização na criação de conteúdo" (conteúdo: palavra engraçada usada à exaustão nestes tempos de redes interneteiras), as tais IAs (sic), têm de ser encarados com um olhar crítico. Não significa cair em negação e não utilizar da tecnologia do presente quando ela for útil. Também nada tem a ver com o deslumbre técnico-midiático que sinceramente nos deveria soar passadista.

E por que digo que o deslumbre técnico-midiático devia nos soar nostálgico? Pq ele é de fato uma visão ideológica (no sentido de falso discurso, máscara da realidade) que ficou para trás no tempo. Ele vem de uma época onde o capitalismo ainda supunha prometer às pessoas uma técnica supostamente voltada para melhorar a vida dos seres humanos. os sonhos da ficção científica, de Star Trek, de uma evolução através da técnica. Desde Tatcher que isso caiu em desuso, mas as pessoas se prendem nessa antiga promessa por não saberem no que mais se agarrarem.

Mas retornando o foco à Anacronia. lembram dos tropicalistas, que não queriam se fechar para a novidade da guitarra elétrica, mas também não queria apenas imitar ou engolir a forma de tocar do mundo Anglo-Saxão? Eles então se apropriaram das novidades da época na música pop para criar algo novo, rico, crítico da sua época. Anacronia é parecido, mas as apropriações não são apenas no espaço, geográficas, originárias de outros países, mas no tempo, de outras épocas, sem negar o presente. isto por que hoje, nesse convívio mediado pela internet, as barreiras dos tempos, na cultura, estão se diluindo.

Novamente cito experiências literárias recentes do nosso amigo Luiz Souza, segue o link nos números que seguem o título: Literatura sintética e ideológica 06, 05, 04 (e outras em seu perfil)

A Arte Anacrônica, feita propositalmente assim e não apenas levada inconscientemente pela maré do tempo presente, também não se deixa apropriar tão fácil pelo discurso técnico-midiático. Pois quando mistura o velho com o novo, para assim comparar um olhar crítico sobre as "ondas" do momento. Parece irônico que seja a forma anacrônica a que possa, agora, comprar as experiências presentes com as de outros tempos. Exatamente o porquê eu não sei bem explicar, deixo a tarefa pro Luiz, perguntem pra ele. Só sinto também que apesar da urgência que sentimos nesse tempo maluco, a Arte Anacrônica não é tarefa para os apressados ou inconscientes.

E aqui coloco um ponto de partida a respeito de uma das grandes ondas do agora: muito da convulsão que estamos vendo no campo da cultura, de forma mais histérica entre gente ideologizada à extrema direita ou ávidas por comprar o discurso dos "liberais progressistas"(sic), está totalmente relacionada ao decadência do Imperialismo Norte Americano, que não vai cair sem fazer uma grande cratera. E isso nos leva para questões de fundo social e político que tem toda a relação com Anacronia.


Arte Anacrônica no mundo e no seu tempo


Eu conversava com o Luiz ontem, e concordávamos que a burguesia Norte Americana está dividida (como assim está no Brasil e no mundo), por que há claramente no mínimo dois projetos de capitalismo numa disputa interna. Como o Luiz sintetizou bem, de um lado democratas, rentistas de Wall Street e complexo militar, que vão tentar de tudo para segurar a ordem unipolar, mesmo que para tanto reativem a guerra fria, o que de fato estão tentando fazer. O dólar é seu grande castelo a ser defendido, e a fórmula da política neo-liberal de sempre seu método econômico. Do outro, a extrema direita que tem apelo com os trabalhadores por que fala em tornar a economia interna forte novamente, e é liderada por uma burguesia "menor", com figuras como Trump, que parecem já dar por certa a construção de uma nova ordem mundial multipolar e a ela querem se adaptar. Cada lado tem uma aposta de como superar a crise e dar sobrevida ao capitalismo, que está a muito tempo fazendo água e tendendo ao colapso.

É sobre essa disputa de fundo que nos é apresentada de forma bem difusa que vemos a burguesia também brigar em outros campos. Por exemplo, é a briga entre Microsoft (queimando a largada) com as outras BigTechs pelo poder e controle das tais IAs. É uma parte da burguesia, alinhada aos democratas, querendo regulação da internet (mas uma regulação aos moldes deles, apenas para seus inimigos, não se iluda), contra a parte da burguesia alinhada com o Trumpismo (Musk, Bezos, e algumas BigTechs).

O que no fundo queria falar com isso é que não dá de se apressar em entrar em nenhuma destas histerias, pq essa é mesmo a palavra que melhor descreve tudo isso: histeria. Na parte da guerra cognitiva a histeria coletiva virou regra, por que é a forma de mover as pessoas rapidamente em uma direção sem que elas parem para pensar. Essa coisa do excesso de informação da internet funciona que é uma beleza para operar isso. Á de fundo briga de cachorro grande.

É por isso que eu, e sei também que o Luiz, e alguns outros amigos artistas, focamos em fazer uma arte crítica. Nesse cenário, e na internet, especialmente dentro das tais redes sociais, nós somos praticamente impotentes, dados moldados pelo tal algoritmo. Basicamente, escrevemos e teorizamos sobre Anacronia por que se não o fizermos ninguém fará por nós, mas também o fazemos para manter a mente lúcida. Acredito que é apenas fazendo nossa arte que podemos pelo menos contribuir para que o campo estético não se deteriore completamente no meio deste turbilhão. Pois nesse exato momento, o mundo e a geopolítica estão se reordenando completamente, e isso afeta a tudo, até o campo estético.

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