segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Despertei pela manhã pensando...

Despertei pela manhã pensando...


A Anacronia deve ser a índole da produção cultural de nosso tempo, por que as dinâmicas culturais não estão isentas dos processos socio-econômicos, por que a tecnologia não é ideologicamente isenta, e por que o tempo se diluíu e vai seguir se diluíndo em uma alquimia frenética no século XXI (e isso para além de tudo que já temos falado sobre as características anacrônicas da produção cultural da era pós internet).

O Capitalismo segue a tendência já anunciada a mais de um século, de mecanização e exclusão do trabalho humano. Humanismo é algo do passado, ao menos na visão dos grandes capitalistas, que agora enxergam o mundo com a lente do Transumanismo. A cada dia "sobra" mais gente no mundo, e vai sobrar cada vez mais. Bípedes com polegar opositor e telencéfalo altamente desenvolvido que não tem mais lugar ou função para o sistema.

Diferente do que pensaram e podem pensar alguns de forma vã, de forma muito passadista, nostalgica e não anacrônica, não vai haver solução automática. Nada de "renda universal" para todos no planeta (quiçá para algumas populações de pequenos paísies europeus, por algum tempo talvez, ou algum programa de renda mínima para os mais carentes como é o Bolsa-Família). A ética do grande capital vai ser a da obsolescência do ser humano, que nem mais para lenha deve servir, e se torna então apenas um estorvo. Fingir que não é assim é mero devaneio, muleta psicológica existencial, ou pura e simples ignorância, carência de experiência de vida e ferramentas intelectuais para ler as coisas em nível macro.

O que já vemos acontecer, e deve ainda seguir e se ampliar no restante do século, serão os grandes genocídios: pandemias, fome, fascismo, ou o "bom e velho" puro e simples genocídio étnico, como o que já ocorreu na Palestina (sim, já ocorreu, sob o silêncio de todo o mundo dito civilziado, e só estamos agora acompanhando seus momentos finais). O Capitalismo entrou em modo autofágico, faz algum tempo, no mínimo desde Tatcher, e eliminou qualquer resquício de ideologia humanista das esferas de decisão.

Sem luta, real e efetiva, a mecanização e obsolescência humana na geração de capital não trará liberdade, redução de jornada de trabalho, renda mínima universal para todos, mais tempo com seus filhos, muito menos espaço para cultivarmos o espírito humano (aliás, eles tem trabalhado para o sentido oposto). Se como "novo desocupado" você não puder se quer gerar centavos para alguma "big tech", seja pelas redes sociais, pelo seu joguinho online predileto (e tem diferença entre os dois?), e consumir algo, você esgotou completamente sua utilidade para o sistema. Nem mais como "exército de reserva", para baixar os salários, você ainda serve, por que esse "cargo" já está saturado de gente.

O Capitalismo agora devora até mesmo seus "filhos", as novas gerações de mão de obra precarizada que deve gerar capital até em seu último suspiro de agonia, escluídos e desprovidos de meios de compreender o que se passa por que presos a sistemas automatizados e gamificados das redes sociais. O controle do tempo das pesssoas pelo capital chegou a um nível de atomização em que estamos todos, a todo momento, disponíveis para sermos explorados, de qualquer lugar, o que fazemos até mesmo em nossos supostos momentos de lazer e interação social.

A Anacronia sempre foi nossa índole, de nós artistas do terceiro mundo, e é agora ainda mais necessária, por que Chronos, como na pintura de Goya, deus do tempo, devorador de sua própria criação, é agora também o signo do capitalismo do século XXI.





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