Algumas vezes já falei do quanto tenho pesquisado na direção de incluir diferentes referências culturais nos conteúdos dos games. Sem querer cair naquela de fazer "amontoados de citações", é claro que isso tem de acontecer naturalmente: cria com qualidade quem também lê, assiste, e ouve o mundo. Fazer games que se limitem apenas a referenciar o universo "gamer" é uma cilada frequente no desenvolvimento independente.
Continuando minhas reflexões ensaísticas sobre o conteúdo nos games, quero falar aqui de um jogo muito especial, e que sabe criar seu universo próprio de personagens carismáticos apesar de nonsenses.
Tcheco no Castelo do Sarney
Tcheco é um game independente recheado de referências aos vídeo games de 8 e 16 Bits, com jogabilidade simples e desafiante. Um ótimo exemplo de game design, um jogo todo na medida. Vocês com certeza vão encontrar várias resenhas a respeito do quão bom o game é, e menções a estas referências, além da fidelidade com as limitações do NES. O Game pode ser baixado em sua versão gratuita no gamejolt, ou comprado na versão estendida pela rede steam.
http://gamejolt.com/games/tcheco-no-castelo-do-sarney/60006
http://store.steampowered.com/app/377600/?l=portuguese
Mas o ponto que quero destacar aqui é o da narrativa e do universo ao redor do game. O personagem surge no final dos anos 90, como uma temporada de animação independente exibida em um canal comunitário no Rio Grande do Sul. Seu criador, Marcelo Barbosa, manteu o personagem vivo, sempre fazendo outras animações, hacks e mods de games, até realizar o game do qual falamos.
Com Tcheco, Barbosa consegue criar um universo rico, com personagens que tem diferentes personalidades, todas calcadas num humor um tanto nonsense, também moldado pelas limitações técnicas de se fazer uma animação independente na época (reciclagem de frames, muitos quadros estáticos, dublagem toscas, etc). Não me parece coincidência que coisas como South Park, Hermes e Renato, entre outros produtos da cultura pop de seu tempo, surgissem na mesma época.
Não que Tcheco seja vazio do conteúdo cultural ao redor de seu criador, muito pelo contrário, pois quem viveu essa época pode perceber sua "contaminação" por animações como Beavis and Butthead, Space Ghost Coast to Coast, as vinhetas da MTV, entre outras. Então outra forma, de tantas existentes, de se criar um conteúdo interessante para um game, é criar personagens com um universo próprio, alimentar este universo com suas referências culturais, de todas as formas que puder: produzindo games, hacks, animações, ou outros que eu desconheça, assim como fez Barbosa por mais de 15 anos.
Baixe o game, ou compre na Steam, vale a pena, e só custa 99 centavos.
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