segunda-feira, 3 de julho de 2023

Bruxólico na Feira Cascaes


Bruxólico na Feira Cascaes


Neste domingo que passou, dia 02 de julho de 2023, participei com meus trabalhos da Feira Cascaes, no centro de Florianópolis, destacando o meu mais recente trabalho em vídeo jogo/livro ilustrado, Bruxólico. Eu encaro sempre esse tipo de participação como uma “saída de campo”, e para além de um breve relato quero aqui refletir algumas questões que pra mim são muito caras e estão relacionadas a experiência.



Meu espaço na feira ao lado das mesas dos meus pais,
artistas populares tradicionais aqui da Ilha.

Eu parei e sentei por raros minutos, e no geral fiquei de pé, conversando com as pessoas e falando sobre o meu trabalho com jogos: como artista fazendo vídeo game num esforço de fazer arte, de me inspirar sempre na cultura e em outras linguagens artísticas, além de jogos que também divirtam e funcionem dentro da linguagem do vídeo game retro.



Painel com registros de algumas das interações com o público


Como esperado era um público heterogêneo, longe da “bolha identitária gamer”, composto por crianças e adultos que tinham maior ou menor familiaridade com jogos, saudosistas dos jogos dos anos 80 e 90, e também pessoas que não tem qualquer familiaridade com a linguagem, mas se interessaram pela dimensão artística, cultural, e de certo modo pedagógica, do meu trabalho.



Rapaz que lembrava dos fliperamas de sua infãncia
jogando Bruxólico pela primeira vez

É sempre divertido ver a reação das pessoas, primeiro espantadas por ver um fliperama, um objeto do passado do videogame, em uma feira cultural de rua. Em seguida por descobrirem que existem pessoas fazendo novos jogos para plataformas antigas, ou mesmo jogos no estilo retro. E alguns ainda por perceberem meu esforço em tratar o videogame com linguagem estética, além de me inspirar e dialogar com a literatura, o cinema, os quadrinhos, a filosofia, o folclore, e mais ainda com a cultura de sua própria cidade, no jogo Bruxólico.



Esta menina gostou do jogo, se esforçou em chegar mais longe na fase.


Quando eu estava no processo de criação de Bruxólico eu já tinha certeza que eu precisava levar ele para as ruas da cidade, e em especial nesta feira, que leva o nome do professor Franklin Cascaes. Para mim, e espero que para outras pessoas, era simbólico estar ali com Bruxólico, por que eu tenho a concepção de que o Cascaes é patrimônio imaterial do povo desta cidade. Ele não é desta ou aquela instituição ou grupos políticos, mas nosso, do povo, para ser não apenas celebrado mas revivido, renovado pelas expressões culturais populares, nas escolas, por comunidades, e por artistas populares como eu, meus pais, ou qualquer outro.


Ir com o Bruxólico para as ruas de Florianópolis é para mim uma forma de, através da pedagogia do exemplo, mostrar que é possível e é preciso se apropriar do Cascaes na arte popular, subir em seus ombros, e olhar mais longe. Minhas ações são esse atestado, esta práxis, este manifesto vivo, de que isto é possível, desejável, e necessário. Digo então a outros artistas, professores, ou mesmo curiosos: leiam o Cascaes, se apropriem de sua obra, que é rica e mais complexa do que muitos podem supor, e a utilizem, reflitam o potenciais e limites do legado  cultural do passado mas também de sua própria produção, atualizem e criem o novo a partir dos mestres. Façam isto não só com o Cascaes, mas com todo o acúmulo cultural humano, com respeito mas sem sacralização.



Representação em tamanho real do professor Cascaes,
em madeira e cerãmica, realizada por meus pais.

Tudo isto que falei está completamente coerente com a proposta da Arte Anacrônica (leia aqui), da Gang do Lixo, da qual faço parte. É uma apropriação crítica dos artefatos materiais e imateriais no tempo. É um uso “sem frescura” tanto da cultura mais “pop” (o videogame, o fliperama) da cultura popular relegada a um "segundo lugar" pelas elites econômicas e culturais (como acontece com o próprio Cascaes por pura incompreensão ou elitismo de muita gente) até aquela considerada “alta cultura” dos acadêmicos, da literatura e da filosofia. Isso requer um nível de independência que é mais do que salutar para qualquer pessoa, mas especialmente para artistas e intelectuais, um desprendimento e dessacralização até mesmo dos objetos que são a si mais caros, como no meu caso o Cascaes.



Manifesto da Arte Anacrônica, 2022.


Para finalizar, no próximo final de semana, dias 8 e 9 de julho, vou participar com meu “Anacrofliperama” e o Bruxólico do “Festival Jogatório”, no SESC 24 de Maio, no centro histórico de São Paulo. No domingo seguinte, dia 16, da festa junina do Ateneu Anarquista, em Porto Alegre, a convite do meu amigo e colega de cena underground do videogame, Pedro Paiva. Em breve nas minhas redes sociais mais detalhes destas participações, e abaixo mais fotos e clipagem de notícias desta última Feira Cascaes.



Dona Osmarina, minha mãe, trabalhando a argila ao fundo



Seu Paulo, meu pai, vendendo as lindas e coloridas peças que ele e minha mãe produzem



Meu amigo Vini, construtor de fliperamas, apanhando do Bruxólico.



Vídeo montagem que fiz dos registros de minha participação na feira.


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Clipagem de Notícias


Matéria do jornalista Nícolas Horácio no Jornal ND+ falando do evento e destacando algumas das atrações, incluindo Bruxólico:

https://ndmais.com.br/saude/bem-estar/apos-visao-do-neto-idoso-virou-artesao-e-referencia-na-feira-de-cascaes-em-florianopolis/



Nota do jornalista José Carlos Sá também comentando o evento e destacando o Bruxólico:

(link do texto e imagens em seu perfil de facebook)



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