Resenha Anacrônica de Games
Já faz algum tempo que tenho vontade de jogar alguns jogos antigos e escrever algumas resenhas. Mas eu sempre me pergunto: o que eu posso falar que ainda não foi dito a respeito destes jogos de 8 e 16 bits? A resposta agora está clara: eu posso falar de aspectos culturais pouco abordados nestes jogos.
Eu pretendo escolher jogos que em geral estou com vontade de jogar, sejam eles antigos, novos mas sempre retrô, obscuros ou não, e escrever resenhas curtas e objetivas, sem deixar de falar dos fatores de diversão, gráficos, sons, mas focando minha análise na parte da narrativa e/ou diálogo com a cultura em geral, seja ele intenção ou não dos desenvolvedores do jogo.
Valis: Fantasm Soldier - Mega Drive - 1991
Remake do primeiro jogo Valis que saiu para computadores e videogames de 8 bits, foi lançado depois de Valis III de Mega Drive. O Jogo tem alguns problemas de colisão que tornam a arma inicial quase inútil, precisando pegar um powerup para atirar um projétil e assim ser efetiva. Os chefes de fase são interessantes, e as magias especiais (cima+ataque) e dinâmica de pegar ou não um powerup dão alguma mínima profundidade na parte de jogo. A maioria das músicas são legais, outras curtas e repetitivas.
A narrativa é contada em longas cutscenes com uma história um pouco truncada e confusa, mas até o final você vai juntando as partes, deduzindo outras, e compreende o quadro geral. Os textos são lentos, bem lentos, e os gráficos estilo anime são bem feitos. No Geral, apesar das falhas, é um jogo divertido, não muito longo, um pouco difícil pela imprecisão das colisões, mas não impossível, pois tem continues infinitos.
Na dimensão cultural o jogo pega emprestado o nome, Valis, do título da ficção de Philip K. Dick. O jogo aparentemente se inspira de forma vaga e livre no livro. K. Dick é mais conhecido pelo trabalho em ficção científica, e Valis é um romance místico e existencial, que discute e critica a fé religiosa, o maniqueísmo, e a busca por sentido no absurdo da vida. Alguns elementos narrativos sobrevivem no jogo: a perda de pessoas queridas e a busca por um sentido em um outro plano da existência. Mas isso acontece mais na "carona" de clichês da cultura pop japonesa do que como referência direta ao livro: é basicamente a garota colegial japonesa solitária que vira heroína mágica e vai para um mundo dos demônios enfrentar seus medos e nos salvar uma possível invasão ou destruição do mundo dos humanos.
Como era comum nos jogos de videogame da época, tudo na narrativa é simplificado e encaixado em clichês maniqueístas, infantilizado e adaptado de forma vaga para um público infanto juvenil. Então não dá de esperar nenhum aprofundamento crítico, e até aí acho tudo bem pois é um produto do videogame de sua época. Mas o que eu não considero interessante são adultos reproduzindo acriticamente esses mesmos clichês ao criar novos jogos, sejam no estilo retrô ou não, sem amadurecer o conteúdo. Esta é uma tecla na qual eu vou sempre bater, pois é o que tento fazer em meus jogos: eles tem a estética e linguagem de videogame do passado, mas me esforço em atualizar a parte narrativa e filosófica dos personagens, mesmo que de forma simples e com pouco texto.
Recomendado para quem gosta de jogo de ação antigo, telas de história com painéis animados, e quer um jogo não tão longo, e não liga para as colisões imperfeitas. lembrando que existem outras versões e sequências desta série no Mega Drive, PC-Engine CD, e Snes, e todas são semelhantes, além dos jogos para computadores japoneses como o MSX, X68000, e outros. Originalmente em japonês e Inglês você pode encontrar por ai versões traduzidas para o português por fãs. Procure para baixar e jogar seja no hardware real, no emulador, FPGA, e se divirta, mas faça o exercício de pensar em como a história poderia se tornar menos infantil e clichê, faça esta experiência.
Dicas e trapaças:
- Com o jogo paralisado aperte Direita+A+B no segundo controle para completar seu HP e MP.
- Na tela título, segure A+B+C e aperte Start para acessar ao "sound test".
Referências:
Resenhas sobre o livro de K. Dick:
https://www.ficcoeshumanas.com.br/post/resenha-valis-de-philip-k-dick
https://formigaeletrica.com.br/livros/valis/
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