sexta-feira, 10 de novembro de 2023

A Polêmica do Jabuti e a IA

Tava aqui trabalhando em meus projetos e refletindo a respeito da tal polêmica do Prêmio Jabuti, que premiou a capa de uma nova edição de Frankenstein, que foi produzida utilizando estas ferramentas de IA:

Em tempos de IA, talvez nosso foco deva ser não no consumo de arte, mas na sua produção. Quero dizer com isso, que nosso exemplo (nós Artistas Anacrônicos) não é apenas a respeito de uma estética de "o que fazer", ou "que formas utilizar". Não, é também um chamado para que as pessoas façam arte. Agora percebo que isto já estava no Manifesto da Arte Anacrônica, de 2022, mas eu não tinha toda a clareza e síntese que tenho agora.

Pq a "arte" de consumo de massas vai ser toda produzida por marqueteiros utilizando programas de automação (as tais IAs, nome mais que inapropriado preciso frisar). Vai ser um mundo onde apenas consumir arte, na maioria dos casos, não vai ser um ato de humanização. Não é consumir arte que vai dar autonomia ao ser humano, ainda mais esta na forma de entretenimento barato, e que terá o potencial de humanizar as pessoas em um mundo que tende a desumanisar-las. Mas o que tem potencial de humanisar é produzir arte. E hoje as ferramentas para se produzir arte estão ao alcance da maioria de nós.

Eu sei que a vida é corrida, que o tempo é curto, que é preciso pagar as contas, etc. Mas não se preocupe, no capitalismo decadente vai ter cada vez menos emprego pleno para todos, e cada vez mais gente vai ter tempo livre. Então, vá atrás das referências do passado, quando se produzia arte humana para humanos, e produza. Também publique, não para seguir carreira de artista se não é a sua, mas pq isso lhe humaniza, e só isso vai lhe humanizar no século XXI, não assistir série de streaming seja com a boa intenção que for. Produza seu game, produza suas pinturas, produza sua música, produza seu filme, e não fique preso aos critérios de "qualidade" (sic) da indústria.

Engraçado, eu sempre fui nessa direção, desde que me lembro, produzindo tudo de forma caseira, e incentivando quem eu pudesse a fazer o mesmo. Foi minha principal postura e trabalho como professor de artes, e eu segui esse caminho. Agora está claro que o método anacrônico, e aestética anacrônica, é um chamado à produção de arte não só por artistas, estetas, pessoas que queiram dedicar sua vida à arte, mas sim a todas as pessoas que queram sentir esta sensação de estar dando significado humano aos signos que ela opera, dando significados seus. Não será possível fazer isto com a sopa (pra não dizer churume) que vai sair de IA.

O Manifesto da Arte Anacrônica foi redigido pelo Luiz Souza e saiu de uma reflexão coletiva realizada pelo Grupo Gang do Lixo, do qual eu tbm faço parte. Baixe o manifesto aqui: https://revistadaanacronia.blogspot.com/2022/08/anacronia-n-1.html




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